domingo, 26 de agosto de 2012

My Brohter 03

Continuando...
Na manhã de segunda-feira, dia 26 de março (exatos 5 meses hoje, data desta postagem), já era 10 e pouco da manhã, o Alex foi me chamar: “seu pai está aí.” Espantei, claro, e pensei no meu irmão: ‘ele deve ter acordado e quer ver a família’... Não era isso... Meu pai disse apenas: “Aconteceu, Marcelo. Aconteceu...” E me abraçou chorando. Saí com meu pai e viemos em casa buscar alguma roupa pro meu irmão.
Não sabemos como, mas esta notícia se espalhou muito mais rápido do que imaginávamos. Chegamos em casa num pé e íamos sair no outro, e já tinha gente indo nos ver e dizer o quanto sentia pela perda. No caminho, fomos buscar minha cunhada pra ir com a gente, mas ela já tinha sido levada pra casa pelo pai dela. Sem dúvida seria pesado demais pra ela ir lá naquela hora com a gente. Para irmos, o pai de um amigo nosso (o Luis) foi dirigindo, pois talvez meu pai não conseguisse voltar dirigindo, e realmente, não teria sido.
Como já disse, essas notícias voam muito rápido e em pouco tempo eu estava recebendo ligações e mensagens de amigos de dentro e fora da cidade. A galera diocesana da PJ mandou mensagens em peso. Chegamos em Londrina, nos encontramos com minha mãe que já estava lá naquela manhã, e ela nos contou como foi. Na verdade, ela não estava junto com ele no momento; estava rezando na Igreja, esperando pra dar o horário da visita, e quando chegou de volta no hospital, uma das enfermeiras veio correndo até ela com cara de desespero, e minha mãe perguntou: ‘o que foi?’ ‘o Renato’ respondeu ela. E não foi preciso dizer mais nada...
As 10:00 hs da manhã de 26 de Março de 2012, meu irmão, Renato José dos Anjos... faleceu...
Foi algo muito estranho quando fomos ver o corpo do meu irmão. Quando estávamos chegando, vi pela porta um pé que poderia ser o dele, e era. Ele estava deitado numa mesa, com um pano sobre seu corpo inerte e pálido. Ainda sujo de sangue, ele e o lençol do hospital, não conseguíamos acreditar que aquele jovem cheio de sonhos, barulhento, que não parava, que sempre comprava e vendia carros antigos (com os quais sempre tinha problema) e que era tão forte, em questão de 4 meses estava... morto. Não acreditávamos que era ele ali. Não acreditávamos e ainda nos custa acreditar.
Voltamos pra Arapongas, e na frente ia o carro da funerária trazendo o corpo do meu irmão. A última viagem dele... Enquanto meus pais estavam na funerária preparando tudo, eu estava em casa, noticiando na internet o ocorrido e ligando e recebendo ligações de muitas pessoas solidárias com nossa dor.
Por volta das 19:00hs, o corpo do meu irmão estava na capela mortuária da Aliança. Alguns parentes e amigos estavam ali naquela hora, e não foi fácil pra nenhum de nós. Pouquíssimos o viram doente no hospital, alguns o viram em casa, mas muitos tinham a última lembrança dele vivo e saudável, e agora estávamos o vendo num caixão, frio e sério.

Apenas meu irmão fora velado naquela noite, mas... parecia que era um velório de 4 pessoas, ou alguém importante na cidade devido a imensa quantidade de pessoas que foram prestar-lhe uma última homenagem. (E pensando bem, ele sem dúvida foi alguém importante na cidade, mesmo apenas tendo sido amigo e companheiro.) Amigos de infância, de faculdade, de trabalho, de igreja, familiares, vizinhos, professores, e muitos outros que não o conheciam, mas por amizade comigo ou com meus pais, infelizmente o conheceram antes, apenas num momento em que meu irmão não os poderia conhecer. Minha mãe e meu pai ficaram no meio do salão acolhendo as pessoas que os saudavam, e havia pouco espaço para caminhar lá dentro. É certo que o lugar não é muito grande, mas ficou ainda menor. Lá fora também havia muita gente. Falando assim parece até exagero, mas somente quem esteve lá sabe do que estou falando. Isso prova o quanto meu irmão (e também nós) somos queridos e amados por tanta gente. Deus seja louvado por isso. Certo momento em que falei com minha mãe ela comentou estar com o rosto doendo de tanta gente que veio cumprimenta-la.

Pra mim, ver as pessoas do meu grupo de jovens e do meu trabalho foi de grande importância lá, sem dúvida, mas grande foi minha alegria naquele momento de dor quando Vagner Leão e sua esposa Rafaela vieram de Londrina para me dar um abraço, e Fran Venancio veio para passar a noite aqui ao meu lado. E como ela acertadamente disse, eu faria o mesmo por ela.

Na hora final, da última marcha, no meio da tarde, foi muito doloroso pra todos nós. Pra mim, eu não podia acreditar que MEU irmão, estava sendo levado pra enterrar. MEU irmão estava morto. MEU irmão, com quem passei tantas coisas junto, mas que... eu pouco conhecia. Infelizmente, eu não era tão amigo dele quando poderia e DEVERIA ter sido. Não sei porque, mas eu não conseguia conversar muito com ele. Acho que por achar e ver que ele era tão forte física e mentalmente de deixava inconscientemente retraído. Sei lá. Só sei que me dói ao ver uma foto na sala em que estamos os quatro juntos, e eu ao lado do meu irmão, mas ao invés de abraça-lo, eu estou com o ombro na frente dele. Chega a estar até torto, por estar apoiado no ombro dele. POR QUE EU NÃO O ABRACEI OU COLOQUEI A MÃO SOBRE SEU OMBRO? POR QUE? Nunca saberei a resposta e nunca poderei fazer isso novamente. Não em vida. Apenas depois, na morte, quando tanto ele quanto outros amigos nossos nos reencontrarmos na Vida Eterna, no Reino de Deus.

Meu irmão, hoje, mora com Deus. É um Anjo que olha por nós aqui. Hoje, dia 26 de agosto, completa 5 meses de tudo isso, e a dor ainda é profunda. Eu gostaria de poder chorar as vezes, mas não consigo. Aliás, consigo, mas meu choro não é de lágrimas. As lágrimas não são a única forma de chorar. Mas não se passa um dia sequer que não me lembro do meu irmão. Infelizmente também, foi preciso que isso acontecesse pra eu perceber que ele faz falta aqui e que eu o amo. E que ele sem dúvida era uma grande pessoa. Um grande amigo, um grande companheiro. Moramos sob o mesmo teto a vida toda, e eu deixei que a amizade com ele não fosse profunda. Como me dói isso. Mas não há nada mais que possa ser feito... Ah, mas eu dizia a ele que o amava e ele também me dizia isso. Não foi somente depois que ele ficou doente que eu criei coragem pra dizer. Claro que eu falava com uma frequência menor do que eu digo aos meus pais, mas eu dizia isso a ele também.

Hoje não é fácil ir no cemitério, ou lá perto. Especialmente pra minha mãe. Mas a vida continua. Hoje, não moramos na mesma casa. Já estava nos planos bem antes de ele ficar doente, e quando descobriu-se a doença, o pedreiro já estava contratado pra começar o trabalho. Até tiramos fotos pra enviar pela internet pra ele ver no hospital como estava ficando o terreno com as primeiras carreiras de tijolos. =)

Mas hoje, nesta casa nova, ele não está conosco. Por um lado é ruim, mas por outro nem tanto, já que não temos a visão dele nesta casa. Ao contrário da outra, pra todo lado o víamos. Mas aqui, mesmo que não o vejamos com os olhos, nosso coração constantemente o visualiza aqui e ali brincando e divertindo, e fazendo barulho e bagunça com a gente ou com as pessoas que vem aqui.

Existem muitas coisas que poderiam ainda ser faladas aqui neste blog, (como os sinais que meus pais tiveram no dia anterior ou no dia) mas deixemos pra lá. Não no sentido de descarte, mas no sentido de que escrever tudo isso me deixa com o coração pesado. E não quero demonstrar isso para minha mãe que tanto torce para que eu seja feliz e com isso ela (e meu pai) estará feliz também.

Seja como for, as constantes e intensas orações que tantas pessoas fizeram em prol do meu irmão, foram SIM ouvidas e atendidas, uma vez que ele não nos deixou em pouco tempo, como acontece com algumas pessoas quando descobrem a leucemia. Aqui em Arapongas, uma filha de um dentista se não me engano, descobriu a doença num domingo, e no sábado, ela faleceu. Um outro rapaz descobriu a doença e em dois meses já havia partido. Meu irmão permaneceu conosco ainda quatro meses.

Ele foi um guerreiro. Lutou bravamente até o fim, e com certeza absoluta, agora goza as alegrias do Céu, junto ao Cristo que tanto amou em vida.

Que Deus nos abençoe, pois a vida, dom de Deus, pertence a Ele. Portanto, apenas a Ele pertence o direito de dar e tomar de volta nosso sopro de vida.

Um forte e caloroso abraço a todos, e obrigado por lerem esta história que tanto me dói contar.


Sua lembrança de 7º Dia que doeu em meu coração ao produzir...

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